DESENVOLVA AQUACIDADE PRIMEIRO

Desenvolva sua AQUACIDADE como mergulhador recreativo antes de ser um mergulhador técnico.

Um bom mergulhador técnico deve conhecer e lançar mão de técnicas específicas para cada tipo de imersão. Nenhum curso ou treinamento isolado tornará um mergulhador apto a realizar mergulhos em todo tipo de ambiente "tech", MAS AS CARACTERÍSTICAS ABAIXO devem ser bem desenvolvidas e já pode-se começar a treinar antes mesmo de participar de seu primeiro curso técnico, o qual eu recomendo sempre ser o INTRO TO TECH, onde inclusive estas características de um bom mergulhador técnico são bem trabalhadas, e em um bom curso, com muita repetição.
Este conjunto de características, eu gosto e costumo chamar de AQUACIDADE, um termo que remete ao sujeito que tem muito boa desenvoltura no ambiente aquático. E as dicas abaixo, apesar de serem repetidas em um curso técnico, devem ser aplicadas já como mergulhadores recreativos, e este artigo é dedicado a isto.

Domínio total do seu corpo na água é a chave para uma boa AQUACIDADE, uma soma de três importantes características. Clique do Kadu Pinheiro, em Cuba.

De fato, o que caracteriza um bom mergulhador técnico é a sua capacidade em usar uma série de técnicas para cada mergulho, além das características apresentadas a seguir, somadas a outros treinamentos prévios obtidos, como mergulho em correntes, mergulho profundo e mergulho com visibilidade restrita (por isso qualquer curso técnico tem como pré requisito o curso avançado). Além disso, deve-se ter em mente que determinados mergulhos técnicos exigirão ainda, novos conhecimentos, claro, dentro de suas especificidades (descompressivos, em cavernas, em naufrágios), mas SEM DÚVIDA, desenvolver a AQUACIDADE de cada mergulhador é fundamental, ANTES de colocá-lo para amarrar pedras, soltar decos ou usar cilindros adicionais aos já novos equipamentos exigidos no mergulho técnico. 

AQUACIDADE

Característica essencial ao mergulhador técnico, a aquacidade adequada é resultante de uma soma de fatores: correta flutuabilidade somada ao trim correto do mergulhador e somada a combinação de boas técnicas de deslocamento.
Aquacidade = Flutuabilidade + Trim + Deslocamento
Onde:
Flutuabilidade = permanecer exatamente à profundidade em que se quer estar, nadando ou parado (estático).
Trim = posicionamento do corpo do mergulhador em relação ao fundo. Na maioria do tempo (mais de 95%) em que se está mergulhando é a posição totalmente horizontal. Mas em naufrágios, isso pode significar uma mudança mais constante, por exemplo.
Deslocamento = é a técnica escolhida para se locomover em um ambiente "tech". Isso pode variar desde a natação simples, ou de meia pernada, até mesmo usar apenas as mãos (puxar e deslizar / pull & glide).
Esta equação parece absolutamente simples, contudo, muitas vezes, o mergulhador não consegue uma aquacidade adequada. Não que ele seja “ruim de água”, mas por pecar em pequenos detalhes, que normalmente não interfeririam em um mergulho em águas abertas, mas que pode ser bem negativo em um mergulho com teto, por exemplo.
Flutuabilidade
A maioria dos mergulhadores inicia a atividade com excesso de lastro, e, acostumado com isso, carrega peso desnecessário. Entre as razões que tornam esta prática um erro, destaca-se a de estar sempre mais negativo do que o necessário, fazendo com que o mergulhador use demasiadamente o colete equilibrador e altere sua profundidade constantemente. Outro problema é que o mergulhador respira de uma forma totalmente incorreta (normalmente o pulmão está cheio), o que dificulta, entre outras coisas, a eliminação de dióxido de carbono (o maior veneno que um mergulhador produz).

O mergulhador pode ter um bom trim, mas não deve tocar no fundo por má flutuabilidade
.
Por isso, a primeira atitude para se corrigir esta postura é conhecer a sua flutuabilidade através de teste simples – que certamente já fora ensinado – e que resultará na redução da quantidade de lastro. Para tal, durante um bom curso, o instrutor fará, com cada candidato, os testes para acertar a quantidade de peso que o mergulhador levará para o fundo.

O segundo ponto é acertar definitivamente a RESPIRAÇÃO, que é, sem dúvida, a melhor e mais importante qualidade a ser desenvolvida por um bom mergulhador. Como sabemos, a ênfase deve ser dada sempre na expiração (o mergulhador gasta, idealmente, o dobro de tempo expirando em relação ao tempo que inspira).
Saber respirar e conhecer os mecanismos ideais para tal é essencial para qualquer mergulhador !

Outra dica importante: devemos inspirar apenas com o abdome, inflando o terço inferior do pulmão (inspiração diafragmática). Esta porção preenche quase 50% da capacidade pulmonar, e satura de oxigênio quase 100% as hemácias, responsáveis por transportar os gases envolvidos no processo respiratório. Todo o mais que é colocado para dentro dos pulmões só serve para alterar a flutuabilidade e exigir mais lastro.
Observações aqui na Acquanauta apontam que, ao acertar a respiração, usando o padrão acima descrito, reduz-se a necessidade de 2 a 4 quilos de lastro, independente do tamanho e condição física do mergulhador. Ou seja, apenas acertando a respiração!

Outra dica, pense com real interesse em fazer um Curso de Mergulho Livre de Alto Desempenho, mesmo que a apnéia não seja sua praia, pois para ter uma boa apnéia, se desenvolve absolutamente bem, antes, a boa respiração.
Trim – Posicionamento do Corpo do Mergulhador
Ao se descobrir a lastragem ideal e mantendo e a flutuabilidade adequada, através do valor correto de lastro e de uma respiração apropriada, devemos nos preocupar agora em acertar o trim, o que trará inúmeras vantagens em qualquer mergulho, especialmente em naufrágios e ambientes com teto.
Olha que desgraça ! Quanto de arrasto, desconforto, má respiração e todas as consequências disso se o mergulhador não consegue ter hidrodinâmica eficiente, que é exatamente o BOM TRIM.
As dicas mais valiosas para corrigir o TRIM:
  1. Use uma pernada que valoriza pernas mais levantadas, com os joelhos flexionados – como a meia pernada e a pernada de sapo – descritas no tópico DESLOCAMENTOS, a seguir.
  2. Distribua o lastro a fim de ajudar a horizontalidade. Para tal, o mergulhador deve proceder do seguinte modo:
    • Use o lastro na cintura, logo abaixo da última costela, e não próximo da pelve. Reajuste no fundo se necessário;
    • Suba o cilindro, baixando a tira da colete. Experimente este procedimento cerca de 5 cm de cada vez, até antes de bater a cabeça no seu regulador;
    • Use equipamentos que ajudem a distribuição do peso (e que reduzam o lastro na cintura), como plates e adaptadores de aço;
    • Use lastros em bolsos fixados na(s) tira(s) do colete / asa, para melhorar esta relação;
    • Os plates exigem o uso de colete equilibrador tipo asa, que ajudam muito no TRIM correto;
    • Alguns coletes equilibradores possuem bolsos na parte superior mediana, e também auxiliam nesta distribuição, fato que o nome destes bolsos é “trim weight pocket”;
  3. E principalmente: treine, treine, e depois disso, treine mais um pouco.
Os melhores mergulhadores rodam um diagnóstico durante todos seus mergulhos, analisando como está sua respiração, sua flutuabilidade e seu lastro (entre o começo e fim do mergulho), seu trim e a posição de suas pernas em realação ao fundo. Isso faz com que se mantenham alertas para a melhor aquacidade possível.
Técnicas de Deslocamentos 

O risco de turvar subitamente a água em qualquer tipo de mergulho reforça a ideia do controle total que o mergulhador deve exercer sobre sua flutuabilidade e trim, como visto acima, e do seu batimento de pernas, uma vez que o toque das nadadeiras – seja no fundo, em qualquer mergulho, ou no teto e laterais de naufrágios e cavernas – é o principal causador deste problema. Existem variadas técnicas, e as duas mais usadas são a meia pernada e a pernada de sapo.

Meia pernada -  o mergulhador utiliza metade da amplitude da pernada total, mantendo as pernas sempre flexionadas para cima, com movimentos curtos. Para treinar e fazê-la bem feito, deve-se dobrar o joelho a 90 graus em relação à coxa, baixando a perna até o ângulo de 45 graus, no máximo. Ao contrário da pernada completa, em que usamos a coxa para o impulso, aqui o mergulhador utilizará somente o movimento da parte inferior das pernas.
A meia pernada é a mais fácil de adaptar, pois é parecida com o que qualquer nadador utiliza.
Veja que o importante é manter uma flexão do joelho e as nadadeiras alinhadas ao tronco do mergulhador.
(imagem do livro Técnicas Avançadas)
Pernada de sapo - semelhante a pernada do nado peito, em que as nadadeiras são afastadas lateralmente do corpo, cortando a água sem produzir movimento. O impulso é dado quando elas se encaminham para o centro, num movimento parecido ao de “bater palmas com as nadadeiras”.  Em passagens muito estreitas lateralmente, opte pela meia pernada, e em passagens muito baixas, deve-se usar a pernada de sapo. 
A pernada de sapo deve ser bem treinada, pois é a que mais o mergulhador técnico utiliza 
(e depois que você aprende usará em qualquer mergulho).
Para dominar estes estilos, treine, treine, e depois, treine mais um pouco. É bom ressaltar que, independente da pernada escolhida, esta deverá ser executada sempre de forma lenta, sem pressa, do contrário, erros de batimento das pernas e toques nas estruturas, provocarão, invariavelmente, o desprendimento de sedimentos das paredes laterias e do teto, diminuindo ou eliminando a visibilidade.
Pernadas “modificadas” – trata-se da natação escolhida para determinado trecho do naufrágio ou caverna, principalmente, seja a meia pernada ou de sapo, reduzidas (ou “curtinhas”). Ou seja, o mergulhador fará os movimentos apenas com os calcanhares e pés, com a perna flexionada para cima (joelho a 90 graus em relação a coxa). Do mesmo modo que o mergulhador deve selecionar a pernada, se o trecho a ser navegado no interior do naufrágio for muito “apertado”, com dimensões pequenas, deve pensar previamente e fazer a pernada escolhida desta forma modificada.
Puxe e deslize – técnica que em inglês é conhecida como pull & glide. Nela todo o deslocamento é feito pelas mãos, segurando em uma peça ou parte do naufrágio ou caverna (e por isso uma técnica "exclusiva" para estes ambientes), puxando o corpo para a frente ou mesmo para trás. Para executá-la o mergulhador deve estar de luvas, e se certificar que segurará firme em uma peça que não seja frágil, tanto para produzir o correto movimento, como e principalmente, para não danificá-la.
Nado a ré – este é um dos deslocamentos mais difíceis para se aprender (e pode ter certeza que para ensinar também). Como trata-se de um conjunto de três a quatro movimentos diferentes que tem que se preciso e em boa sequência, demora-se um pouco para começar a produzir movimento, e depois tem que se treinar constantemente para mantê-lo e aperfeiçoá-lo. Assista vídeos e discuta com seu instrutor a melhor técnica, pois realmente precisa-se de boa orientação para alcançar boa performance. Descrever aqui seria um tanto inútil, pois é preciso de piscina para isso. Ah, trata-se de uma técnica usada para se realocar em algum espaço menor, mas cuidado, por exemplo, em naufrágios é uma técnica que mais suja a água que ajuda (como usar um dedo para se deslocar pra trás é menos danoso ao ambiente e mais preciso).
Deslocamentos "parados" - e claro, há duas manobras clássicas para se aprender e praticar. A natação estática, isto mesmo, "nadar parado", que é se manter flutuando sem sair do lugar, para por exemplo, amarrar uma carretilha ou "pagar" deco. A outra é o helicóptero, ou seja, girar sobre o próprio eixo. Ambas são realizadas em perfeito controle de flutuabilidade e exato trim, utilizando as nadadeiras apenas para se equilibrar (estática) ou para girar (helicóptero).
Bem, todas as partes desta equação chamada AQUACIDADE, deveriam já lhe ter sido ensinadas desde o seu primeiro curso básico, crescendo em termos de domínio nos demais cursos recreativos. Se foi assim, você teve a sorte de passar por bom ou bons instrutores. Mas realmente, as vezes, alguns termos, como o Trim, você só acaba conhecendo no curso técnico, e aí, pra ajustar todas as novidades dentro deste nível de aquacidade é bem mais difícil e penoso. Mas dá tempo ainda de arrumar tudo isso. 
Um bom treinamento, ainda recreativo, para tal, é o curso de Mergulhador de Naufrágio, ou como temos aqui na Acquanauta, o Curso de Fundamentos, que é justamente para acertar isso, com qualquer tipo de configuração, recreativa ou técnica. Outras boas escolas e agências tem seus cursos voltados para acertar a flutuabilidade. 
Procure um curso para isto, mas verifique a excelente possibilidade de o Instrutor que irá ministrá-lo, seja no mínimo, se não Instrutor, mergulhador técnico. Esse cara tem ainda mais condições de por um melhor tempero no programa.
Sugestões e dúvidas, me contate pelo e-mail: reinaldo@acquanauta.com.br.
Bons mergulhos ! Você merece !

Comentários

  1. Parabéns Reinaldo pelo seu artigo muito bem feito e muito importante para nos mergulhadores.

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