E O CAPACETE ?

PRECISO MESMO DISSO PRA MERGULHOS COM TETO ?

Já que o negócio dos artigos neste blog é provocar, gerar certa confusão, mas principalmente, fazer a galera por o “cerebelo” pra rodar, discutamos uma parada bem bacana, algo controversa, algo muito defendida por uns, muito negada ou dispensável para outros. O uso de capacetes em ambientes com teto !

Eu mesmo ali na Caverna Dos Pisos, MX. Selfie.

Como diria Bruce Wayne... Well, well, well, what we have here…

Bem, capacetes são utilizados por uma renca de mergulhadores SIDE MOUNT (veja minhas opiniões e provocações nos três artigos específicos para tratar de Side Mount: recreativo ou técnico, e sobre alinhamento dos cilindros). Ou seja, os que usam cilindros montados na lateral do corpo quando mergulhando sob teto físico, a maioria das vezes em cavernas, algumas vezes em naufrágios.

Não existe, absolutamente, razão alguma, ou vantagem alguma, ou necessidade alguma – ou seja, esqueça isso pessoa – de usar um capacete quando se usa cilindros nas costas – back mount – NÃO! NEM PENSE NISSO! PORQUE NÃO! PORQUE EU SOU SEU PAI! NEM FODEND... Tá... porque simplesmente a proteção de sua linda cabecinha já está feita pelos cilindros duplos nas suas costas, e você deve(ria) estar mergulhando num lugar que não é apertado o suficiente para ter de usar cilindros na lateral do seu corpo. E também porque, vai entender logo aí embaixo, suas mãos vão estar sempre livres para manusear lanternas reservas, além da principal, e qualquer outro acessório que possa ser útil, como uma spool de jump, por exemplo.

Primeiro, quando usar. Ou porque usar.

Me atento primeiro ao meu singelo mundo de formador de mergulhadores “básicos” de cavernas, cursos Cave I e II (mas II não é top of móderfãquers cave divers? Não filho, especialmente alunos...).

Quando usamos uma configuração side mount, ou melhor, quando essa configuração é necessária para passarmos por ambientes muito baixos (onde duplas nas costas nos entalariam), e assim aumentar a exploração de uma caverna, aumentar o número de cavernas possíveis de se visitar ou as duas coisas juntas (Exemplo, Península de Yucatan, México), é bem possível que você possa “ralar” sua linda cabecinha, mesmo com seu capuzinho, no teto. Dependendo do tipo de rocha ou decorações, isso pode realmente causar arranhões e pequenos cortes em sua cabeça. Ou seja, o primeiro objetivo do uso do capacete é como “anti ralo”. É basicamente porque EU uso, e recomendo meus alunos e times usarem. Quando estamos além de ambientes baixos, apertadinhos, ou seja, onde é necessário remover da lateral do corpo um ou dois cilindros, pra passar naquele buraco justo, também será um bom “anti ralo”.

O uso ainda mais necessário “seria” quando estamos usando, além de side mount, um scooter, para o passeio na caverna. Aí, além de “anti ralo”, ele “serviria” de proteção contra impacto. Pretérito do futuro. Não gosto da ideia de side mount mais scooter. Soa como um “dane-se os espeleotemas”, por exemplo, no delicado ambiente das cavernas que conheço no México, especialmente as mais apertadas. E na Florida, com um baita fluxo? Este é um ambiente mais propício ao uso de scooter, e se somado a isso a caverna exigir o uso de sidemount, e capacete como proteção ao ralo e ao impacto. Coisa de “profissa”, ou seja, de já ter mais de meia dúzia de dezena de mergulho em cavernas, e estar lá criando casca.

Eu de novo, sem lanternas no capacete. Foto do "Jornada"

O uso das lanternas no capacete.

Não gosto. Explico. Encontro amigos e diversos mergulhadores que não conheço, usando a lanterna principal, mais duas, as vezes até três, lanternas reservas, todas presas no capacete. O motivo para isso, segundo eles, é que quando se precisa trabalhar com as duas mãos, seja para ajeitar uma carretilha em uma amarração, seja para remover um ou até dois cilindros da lateral do corpo, jogar um pra frente, os dois, ou um pra frente e o outro no meio das pernas, pra passar naquele buraco apertado, a luz principal na mão poderia parecer uma luta de espadas de luz do Jedi (aquele do Star Trek... Ei, piada apenas). E claro, cegar a si próprio ou ao dupla. Neste caso, posso concordar com a solução de ter uma presilha em “C” na lateral do capacete, e MOMENTANEAMENTE, durante esta “batalha”, a luz estar no capacete, alinhada com a sua direção na caverna. Se arrumou de volta, colocou as coisas no lugar, volta a lanterna pra mão. Se usar direto no capacete, já PRESENCIEI, veridicamente, uma péssima e confusa comunicação dentro da caverna, com a luz sendo jogada de forma errada nos outros, e até mesmo, uma lanterna arrancada do capacete por enrosco do cabo de energia do cânister em uma estalactite (aquela que fica no teto, coitada, foi arrancada com seus 2 mil anos de história...), fora o fato do cabra estar bem, mas mexer tanto a cabeça – o perfil da caverna exigia “negociações” – que ficava ressabiado se estava tudo bem mesmo ou o sujeito convulsionava. Isso, a lanterna principal permanente no capacete, já meio estranha. Agora imagina se realmente o usuário precise de uma comunicação mais eficiente, iluminar sinais manuais, ou mesmo usar para sinais simples como o OK, ou emergência.

E tem a situação de doar/compartilhar gás. Usando no capacete uma lanterna que tem a cabeça ali presa, mas o cânister nas costas, abaixo do colete, por exemplo, com a presença de um cabo, pode ser que na necessidade de doar sua mangueira longa, possa haver enrosco entre elas, piorando a pior situação possível na caverna, que é alguém em um lugar apertado, pouca capacidade de manobra, estar sem e precisar compartilhar gás. Dá pra fazer, claro, mas adiciona-se uma etapa extra ao procedimento. Se você retira e recoloca a lanterna na cabeça algumas vezes, o certo é o cabo de energia ficar livre, e numa situação de compartilhamento de gás, você deverá com a mão esquerda remover a lanterna, enquanto com a mão direita passa a mangueira a ser compartilhada. Isso deve ser treinado e executado toda vez no S-Drill.

E quando se trata de lanternas reservas, a explicação para o uso no capacete, é de que se usar nos arreios laterais (abaixo dos braços, como num plate), com os cilindros pressionando as lanternas, podem alguns modelos ligar acidentalmente (e além de gastar a energia da lanterna reserva, vai parecer uma discoteque dos anos 70), e ficar difícil sacar uma lanterna reserva “espremida” nos cilindros. Isso é verdade. Eu uso no bolso da perna direita as duas reservas, como meu time. Alguns também diriam se tratar de uma manobra difícil remover uma lanterna reserva do bolso com cilindros na lateral do corpo. Um pouco é, mas filho, treino é pra isso. Por isso meus alunos treinam TANTO acessibilidade de todos os acessórios em cursos técnicos. Será que se não houver esta capacidade de resolução, com a sua lanterna principal apagada ou falhando ou bem fraca, mas com a luz do seu dupla ou time “por alí”, o sujeito deveria estar de side mount com capacete e tudo, em lugares espremidos há 250 metros pra dentro de uma caverna alagada? Mas porque não gosto mesmo de lanternas reservas no capacete: você tá ralando elas nas pedras, sendo agressivo com o ambiente frágil da caverna! Veridicamente, já saí de cavernas nem tão bem apertadas assim, vendo mergulhadores saindo da água com elas penduradas pelo mosquetão no capacete, estilo o Predador Rastafari (esse eu sei que não é do Star Trek, tá?)...

Bem, lembro-lhes, minha opinião.

Capacete www.lightmonkey.us e soluções pra lanternas

Mas o cara que fotografa, ou o cara que explora (cabeando pela primeira vez o ambiente), ou o cara que tá fazendo a topografia (parte de uma exploração), ou seja, os tipos que usam realmente as duas mãos pra uma porção de coisas importantes naquele momento. Esse cara está basicamente fazendo um mergulho solo, mesmo que com um time, e pode estar usando muito as mãos para mexer com a tralha toda necessária para isso. Exceção do fotógrafo, como meu amigo Kadu Pinheiro, pra mim “o” mestre” em foto sub em cavernas, que usa as lanternas do próprio flash para iluminar o caminho, exploradores são exploradores, vivendo momentos únicos, perigosos e tem o direito de configurar como bem entendam suas lanternas, no capacete, na mão, no harness, como bem queiram. Já são malucos o suficiente para se entenderem com luzes e capacetes. E devem ser respeitados, ou você acha que os deuses astecas que colocaram todos aqueles cabos ali pra gente se divertir?

Dá pra não usar?

Eu como disse, uso, treino e faço alunos mesmo que não ainda avançando em lugares tão apertados, usar.

Mas não é obrigatório o uso. Muitas vezes, nem necessário, mesmo em ambientes apertados. O frame abaixo é de um vídeo do amigo, instrutor, mas principalmente EXPLORADOR de cavernas, Zé Mario Ventura, hoje vivendo para as bandas de lá (Ei, Zé, se para os portugas somos do além mar, ceis são do “pré mar”, “antes do mar” ou o que? Deixa pra lá...), explorando cavernas em Portugal no momento. Liguei imediatamente quando vi o filminho dele mergulhando num buraco bem apertado na terra do vinho verde, no Instagram do cara... Meu Deus !!! Sem capacete esse menino! 

A resposta: “Pra quê? Se controlo bem meu trim, minha flutuabilidade, me antecipo a cada lugar mais apertado, uso muito as mãos (no famoso “segura e puxa”), estou nadando contra o fluxo, e na volta, redobro a atenção. Ou seja, faço uma gestão cuidadosa do meu deslocamento horizontal”. Arrisquei continuar o papo: E o que acha das lanternas todas presas no capacete? Me ensinou, de novo: “a comunicação fica uma merda”... Entendeu o conceito de “profissa”? Brincadeiras a parte, um bom capuz, espesso como o Zé tá usando aí na foto, protege tão bem do ralo quanto o meu capacete, que eu paguei caro e tirei tudo que dá conforto e anti impacto nele pra ajeitar bem na cabeça...

Zé Mario - sem capacete - numa caverna em Portugal. Frame de um vídeo selfie.

E em naufrágios?

Aqui a coisa muda, na minha opinião, e do meu amigo e Instrutor Wreck Penetration NAUI, “side guru”, Ricardo “Chango” Villegas, o “argentino mais preto da Bahia”.

No conceito de ambiente “restrito”, “teto baixo”, “passagens estreitas”, nada mais é isto, que os naufrágios penetráveis na maior parte do planeta. No ambiente que o Chango trabalha todo dia, Salvador e arredores, ainda mais. Com outros diferenciais em relação as cavernas. Naufrágios possuem peças soltas, partes que se movem, e possuem “craca”. De todo tipo. Um ambiente que “rala” bem mais e pode se mover a ponto de causar impacto na cabeça dos mergulhadores. E ele tem craca e se move, porque está num ambiente chamado MAR. O mar se move, as vezes muito, seja por correntes, seja pelo vai vem de marés e ondulações. Então há dois cuidados que o uso do capacete com a configuração side mount é benéfico.

PRÉ MERGULHO. Você na água, líderes de superfície te passando o(s) cilindro(s) de side. O mar balançando e sua cabeça pra fora da água enquanto seu corpo já está lá, com escada e plataforma da embarcação, e, o balanço do mar. Já deu pra entender né? Dica do Chango: “SEMPRE MINIMIZE O RISCO”. Entre na água equipado com seu colete e o capacete no lugar. Depois pegue e clipe os cilindros.

E no mergulho em naufrágios, com alguns dos riscos inerentes acima já citados, quando usando os cilindros para passar a sua frente, na hora de sair por aquela escotilha, portanhola ou mesmo a porta estreita, várias vezes de lado, você aumenta muito sua segurança usando, além das luvas apropriadas, o capacete, sem dúvida. Pense nestas passagens com todas as bordas cortantes, com o aumento do fluxo gerado pelo estreitamento do caminho.

Sobre as luzes na mão ou no capacete, eu, particularmente, continuo defendendo o uso da principal na mão e as reservas no bolso. O Chango usa a principal na mão, mas prefere as reservas sempre no capacete, alinhamento reto na lateral, e treina seus alunos assim. Gosta de usar as vezes uma lanterna reserva também no capacete, no lado oposto a principal, para que tenha luz rapidamente, e a segunda reserva, no bolso. Uma coisa legal, ele usa elásticos pra prender a(s) lanterna(s) reservas, e faz seus alunos treinar muito a retirada e colocação delas no capacete (e não tire up (engasga gato) pra prender lanternas. Vide conceito de “gambiarra” mais abaixo). Respeito, porque usa todo dia, e conhece como ninguém os naufrágios que mergulha.

Isso é outro diferencial importante no mergulho em naufrágios. SEMPRE, mergulhe com quem conhece bem aquele ponto. Estude previamente na maior quantidade de fontes disponíveis como foi que aquele barco naufragou, qual foi a “evolução” (que significa a maioria das vezes o desmantelamento de partes e até do soçobrado todo) durante o tempo que já está no fundo, e a condição atual do naufrágio. Tenha treinamento FORMAL para isso, começando pelo curso recreativo de naufrágios, e se gostar demais disso, bons cursos de penetração e penetração com descompressão (Penetration Wreck e Technical Penetration Wreck). Cursos de caverna ajudam, sim, mas os de naufrágio são insubstituíveis pra fazer a coisa bem feita. #ficaadica.

Mestre "Chango", saindo de um naufrágio em Salvador.
Lanterna principal na mão, reserva no capacete.
Foto: Roberto Costa Pinto


Qual capacete?

Eu uso um da Ptzel, não inventado para mergulho em ambientes com teto, e sim para montanhismo e exploração de cavernas secas, mas que, retirada a espuma interior, se adapta absolutamente bem a minha cabeça, é “slim” e gosto muito dele. Você pode até adaptar um capacete de skate ou bike, ou como eu fiz, de montanhismo, mas ele tem que ficar o mais neutro possível, e ter “amplitude” frontal suficiente para nem tocar na sua máscara, que não podem ter uso “atrapalhados” em conjunto. As tiras devem ser bem ajustadas, e sem sobras (você já vai ficar, como eu, feio o suficiente, não deixe que ainda fique cheio de “rabichos” aparentes e atrapalhantes).

VERTEX® VENT - Helmets | Petzl Other
Esse é o meu capacete. Antes de eu "tunar" ele pra mergulhar.
A ventilação ajuda a passar a água fácil, e a adaptação da máscara neste modelo ficou ótima.
Foto do site da Petzel.

Mas saiba que há capacetes específicos para o mergulho em cavernas. Os desenhados e produzidos pela Light Monkey e Dive Rite são os mais “espertos” que eu conheço, e você acha em Centros de Mergulho aqui e lá fora. Eles todos tem tamanho, e isso é absolutamente importante, pois precisa ficar firme na sua cabeça, sobre o capuz (o capacete não dispensa o uso, ao contrário, recomendo tremendamente que use). Se você usa tiras da máscara de neoprene, vai aumentar consideravelmente o volume abaixo do capacete. Leve capuz e máscara no lujinha na hora de provar o capacete que melhor vai lhe servir, e então, compre este.

Capacete da Dive Rite desenhado pra mergulho em cavernas.

PELAMORDOSDEUSESSUBMERSOS ! Não faça “gambiarra” para clipar suas lanternas, se optar por isso. Pensando em tudo que você já tem para mergulhar tecnicamente em cavernas e naufrágios, o mais barato é comprar os “clipes” do mercado. A Light Monkey tem um tradicional chamado “c-clamp” e a Dive Rite um sistema inteligente de trava. Lembra dos cave divers que eu disse ver saindo da água com suas lanternas penduradas ao estilo “rasta-metal”? Adivinha se não era no sistema “gambiarrento”...

Bem, como sempre, pra finalizar, o mais importante: treine, treine, treine, treine, treine. Ficou algum tempinho sem usar esta configuração, retreine antes. De novo. “Você é o que você mergulha”. Como tudo o que você faz em ambientes com teto requer treinamento adequado e muito treino, agregar um capacete sem ou com lanternas clipadas nele, exige o mesmo comprometimento.

Pense. Planeje. TREINE. E vai mergulhar, você merece! E até a próxima.

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