MERGULHO TÉCNICO FÁCIL ?

Inúmeras vezes deparo com mergulhadores que comentam que “tech dive” é muito difícil, complicado, caro... Falam com admiração, mas por vezes quase como desculpas para não fazê-lo. Todos têm parcial razão. Parcial porque o mergulho técnico pode ser caro, pode ser difícil, e pode ser arriscado, sim. Mas pode ser fácil, relativamente barato, e principalmente, muito seguro. Isto vai depender de duas coisas: onde você quer chegar, e como você chegou para fazer mergulho técnico (os pré requisitos antes do curso, não só de carteirinhas, mas de como está mergulhando). E lá no final da fila, no meu entender, alguns aspectos psicológicos (claro, se você tem claustrofobia não é bom que tente entrar em uma caverna, por exemplo).



Mergulho Técnico na Corveta Camaquã, Recife. Tech Diver fotografando Tech Diver.

Primeiro, o que é MERGULHO TÉCNICO
A definição mais “clássica” é: “aquele mergulho que tem teto, físico ou fisiológico”. Ou seja, que eu não posso retornar a superfície diretamente, pois ou estou dentro de uma caverna ou naufrágio (teto físico), ou tenho que fazer descompressão (teto fisiológico). Credenciadoras diferentes separam o mergulho recreativo do técnico com esta regra, e mais algumas. Por exemplo, se o mergulho for abaixo dos 40 metros, é técnico. Se o mergulho precisar de outra mistura de fundo que não o Ar ou o Nitrox, é técnico, e assim por diante. O fato é que todas estas definições estão corretas, sem dúvida, e que mergulho técnico é um mergulho avançado com uso de equipamentos, técnicas, misturas gasosas, além de comportamentos e atitudes diferentes do mergulho recreativo. Abaixo há uma postagem neste blog explicando um pouco do mergulho em cavernas e naufrágio, suas diferenças, e quando são recreativos, quando são técnicos. Para o mergulho profundo há também distinção entre “REC” e “TECH”, na mesma linha de raciocínio.

Porque pode ser difícil ou fácil mergulhar TECH

Naufrágio do Andrea Doria, costa nordeste americana. Profundidade de 75 m, visibilidade, quando muito boa, 6 metros no fundo, água entre 09 e 12 graus. Um naufrágio emborcado (de lado), em desmantelamento, penetrações complexas. Muita corrente na superfície e na porção rasa (deco) do mergulho, quase sempre mar com grandes ondas, sem abrigo nem para dormir (o barco fica normalmente ancorado e dorme em cima do naufrágio). Imersões quando muito com 30 minutos de fundo, e mais quase 90 de DECO (na corrente e água fria, sem visibilidade). Roupa seca com undergarment (roupa de baixo que aquece) indispensável, e sem poder falhar/entrar água. Nos cilindros duplos o Trimix é indispensável, além de no mínimo 2 cilindros de DECO pendurados no mergulhador. Sem dúvida uma operação cara, uma verdadeira expedição a ser montada com exclusividade para seu time.

UM EXCELENTE E EMOCIONANTE MERGULHO TÉCNICO DIFÍCIL, sem dúvida, mesmo para os mais experientes. Não é a toa que é considerado o Everest do mergulho TECH.

Ilustração do Doria (www.shipwreckcentral.com)
  
Naufrágio do Thistlegorm, costa nordeste do Egito. Profundidade de 32 m, visibilidade, normalmente entre 20 e 30 metros no fundo, água entre 24 e 28 graus. Um naufrágio em pé (posição de navegação), intacto em sua parte com mais atrativos, com penetrações fáceis em grandes porões. Pouquíssima ou nenhuma corrente na superfície, quase sempre com mar deitado, onde o barco ancora e passa a noite sem perceber onda alguma. Imersões de 90 minutos de fundo, com quando muito, 30 minutos de DECO (observando o naufrágio com um todo de onde descomprimimos, além dos cardumes de peixe). Roupa de 3 mm. Na dupla EAN32 e se necessário, um cilindro de DECO pendurado do mergulhador. Uma operação barata, basta escolher um barco que além de mergulhadores recreativos, tenha pelo menos um dupla TEC para você, e gastando apenas poucos dólares a mais para locar um cilindro duplo.

UM EXCELENTE E EMOCIONANTE MERGULHO TÉCNICO FÁCIL, sem dúvida, mesmo para quem está iniciando no mergulho TECH. Não é a toa que é considerado um parque de diversões para qualquer mergulhador.

Ilustração do Thistlegorm (www.kildare.ie)

Nestes dois exemplos, explico a minha primeira indagação sobre onde quer chegar como mergulhador técnico. Da mesma forma que alguém pode ser um mergulhador básico para sempre, e outros avançados com especialidade em naufrágios, o mergulhador TECH também pode usar um equipamento TECH, mas para explorar mergulhos fáceis, com segurança, sempre, mas ir além do mergulho REC (cursos como o Intro to Tech, Technical Decompression e Helitrox). Ou, se quiser evoluir, fazer cursos mais complexos e ir mais fundo (Trimix ou Extreme Exposure Diver, e assim por diante). Para cavernas, a mesma coisa, pode brincar na área de luz natural, penetrar em dutos principais sempre grandes e muito bem cabeados, ou pode querer fazer navegações mais complexas (travessias e circuitos), com inúmeros “jumps” e “gaps” (e idem sobre naufrágios. Leia mais no artigo publicado neste blog clicando aqui).

Mas mais importante ainda de onde você quer chegar, para ser fácil mergulhar TECH, é ter uma atitude e uma postura para o TECH. Hoje em dia, qualquer aluno meu de curso avançado, já aprende a utilizar uma carretilha / ”spool” e um “deco mark”, e é incentivado a comprar, se ainda não tem, um colete tipo asa com plate, e a configurar seus reguladores com mangueiras nos tamanhos certos. De frente, ele usa exatamente a mesma configuração para qualquer tipo de mergulho (leia mais abaixo). Além disso, participar de clínicas de fundamentos (todos utilizados no mergulho técnico, como a correta respiração, acerto do “trim” e da flutuabilidade, e maneiras de se deslocar) os deixam muitíssimo confortáveis para encarar o mergulho TECH, sem mudanças bruscas na maneira de mergulhar e no equipamento a utilizar.

Ou seja, no mergulho, em qualquer nível, tem que ter havido EVOLUÇÃO do praticante, em técnicas, comportamentos e equipamentos. O próximo passo será FÁCIL, depois que o último está totalmente dominado. Aí, a duplinha que tanto prezo: SEGURANÇA e DIVERSÃO, está garantida.

Pré requisitos
- Saúde em dia – faça um exame médico, e por desencargo, peça a um cardiologista um exame de Foramem Oval.
- Avançado, Nitrox e Master Diver Recreativos, por qualquer credenciadora.
- 25 mergulhos logados.
- Faça um plano de assistência da DAN BRASIL (www.danbrasil.org), você está indo além do mergulho recreativo.
- Ser não fumante – certas escolas/credenciadoras não exigem isso – mas meu chapa, sem dúvida, seu filtro pulmonar é mais exigido no mergulho TECH. Se não parou, largue essa m...

Configuração TECH
Garrafas duplas, com torneiras interligadas, mas que se tornam independentes através de um isolador, dois reguladores portanto, mangueiras customizadas (reduzidos tamanhos) e uma mangueira longa no regulador principal, uso de asas sustentadas por back plates com harness minimalistas, roupas de melhor proteção térmica (secas ou semi-secas), lanternas mais potentes, de cânister e com “goodman handle”, três delas (para mergulhos em cavernas), nadadeiras de melhor potência para movimentar um mergulhador que tem mais arrasto, ou menores e mais largas (Jet, turbo, etc) para dar maior manobrabilidade. Cilindros de “stage” ou “deco”, com reguladores próprios e mangueiras também com tamanhos diferenciados das recreativas, pendurados por “rigs” no “harness”. Esse é o desenho da configuração padrão de um mergulhador TECH. A foto ajuda a entender.
  
Configuração TECH com duplas (www.apeks.co.uk
  
Mas também podemos fazer mergulho RECREATIVO com uma configuração TÉCNICA. Veja a foto abaixo. Mergulhadores que já passaram por um curso TECH e concluíram que é mais prático mergulhar com uma configuração TECH no REC. Ou não ainda, mas  estarão mais preparados para quando encarar um curso TECH.

Mergulhador recreativo utilizando um configuração tech para um cilindro apenas. 
Colete Zeos XDeep - www.xdeep.com

Muitos mergulhadores TECH que eu conheço, infelizmente ganham uma certa “síndrome do mergulhador técnico”, ficam “metidos” e não querem mais saber de mergulho recreativo. Bobagem pura ! Mergulham muito menos.

Mas há os mergulhadores que eu mais admiro, que após ter concluído um curso TECH, ou mesmo durante seu curso avançado, já optam por uma configuração que vai ser mais próxima da exigida no mergulho TECH. Quando chegam lá, fica tudo muito mais fácil. E aqueles TECH que adaptam seu equipo, através de um adaptador para cilindro simples, pura e simplesmente, e mergulham SEMPRE COM A MESMA CONFIGURAÇÃO. Ou seja, muito expertamente, estão treinando para o mergulho TECH quando praticam o REC, e se mantém treinados no REC quando praticam o TECH. E sempre, em qualquer um dos desafios, ao menos no que diz respeito à adaptação e ao uso do equipamento, estão preparados e bem treinados. Ponto para eles !


   
Pouca diferença, trocando apenas a asa, para single ou double tanks

A evolução no TREINAMENTO TECH

Faça na ordem certa, e como seu instrutor lhe aconselhou no mergulho recreativo, uma coisa de cada vez, com intervalos entre cursos MERGULHANDO. Exemplo de uma formação pela NAUITEC (IANTD, TDI, GUE, PADI, entre outras, têm programas similares):

1. INTRO TO TECH – Tudo deve começar por aqui. Sem a pressão de um teto físico ou fisiológico (ou seja, sem penetrações em cavernas ou naufrágios, e sem descompressão), você vai aprender a usar a configuração de equipamentos técnicos e vai aumentar sua aquacidade usando este equipamento, ou seja, vai controlar bem sua flutuabilidade, a posição de seu corpo (TRIM), e vai entender e praticar o melhor deslocamento (técnicas de natação) de um mergulhador técnico. Bons cursos e Instrutores ainda vão lhe ensinar aqui que o conceito de "time" vai ser diferente e bem melhor que o conceito de "duplas" que você trouxe do mergulho recreativo.

2. TECHNICAL DECOPRESSION DIVER – Limite de 40 m de profundidade, até dois cilindros de DECO, com perfis com maior tempo de fundo e de descompressão de até 15 minutos. Usa-se AR ou EANx como mistura de fundo.

3. HELITROX e/ou TRIMIX DIVER – Limite de 46m e/ou 61m de profundidade, com misturas Trimix (entra o Hélio na mistura) de fundo, descompressão baseada principalmente no uso de oxigênio puro.

4. EXTREME EXPOSURE DIVER - Mais fundo que 61m de profundidade, usando Trimix hipóxico como mistura de fundo, gás travel e outras técnicas descompressivas.

Tratamos aqui dos mergulhos descompressivos. Podemos seguir em e por outros caminhos. O quadro abaixo elucida como fazemos isso por aqui:


 Site Acquanauta

E além disso, existem outras coisas a fazer, no meio disso tudo, como o DPV Diver, o curso de Roupa Seca, Ice Diver  (se estiver muito longe daqui em direção aos polos), etc... Ou seja, sempre há possibilidades de aprender mais.
Meu amigo, se você acha que aprendeu tudo, você já era e esqueceram de te avisar.
Para saber mais sobre cursos técnicos descompressivos, em cavernas ou naufrágios, entre em contato comigo através do e-mail reinaldo@acquanauta.com.br


Bons mergulhos ! Você merece !

Comentários

Postar um comentário

Comente este artigo !